quarta-feira, 4 de abril de 2012


A cidade estava deserta. Nas ruas ouvia-se o silêncio mais puro, que sussurrava em todas as esquinas e por entre os edifícios. O sibilar da solidão propagava-se por toda a natureza morta que compunha a cidade, uma selva urbana de cinzentos, vermelhos e ocres. Tudo era puramente funcional, o racionalismo em forma arquitectónica. Grandes fachadas envidraçadas olhavam o silêncio de cima, contemplavam aquele vazio ridículo - diga-se com sinceridade que as grandes metrópoles sem ninguém teriam um aspecto despropositado e sobejamente ridículo. O Sol batia os muros de maneira enviesada, a obliquidade da luz dava uma certa beleza ao betão e transmitia uma serenidade de fim de tarde de Verão.

Ele acordou, desceu ao plano onde este aglomerado morto se encontrava e contemplou. Contemplou a vastidão do vácuo humano que se lhe apresentava. Parou durante uns segundos e ficou a perscrutar aquela cidade de aspecto tão modernista - vazia. Caminhou pelas ruas, subiu aos muros, inspeccionou as esquinas. Estava sozinho, tinha a certeza. Onde teria ido toda a gente? Que estranho fenómeno teria eclipsado todos aqueles entes? Cada movimento, cada respiração, cada passada ecoava por toda a eternidade de betão. Pensou que talvez se tratasse de um sonho. Tentou acordar. Não conseguiu. Estava genuinamente sozinho.
A solidão era agridoce e veiculava sentimentos mistos e contrastantes. Todo aquele vazio transmitia uma calma nunca antes sentida, aquele silêncio agradava-o, permitia-lhe ouvir os seus pensamentos com clareza, os seus sentidos pareciam mais aguçados... Mas também era fria. E toda a gente sabe que nós - raça humana - gostamos de calor.


Deitou-se no cimento morno e olhou para o céu onde o sol o encandeava, fechou os olhos e adormeceu.

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