segunda-feira, 14 de outubro de 2013



e não foram poucas as vezes em que, sentados numa fogueira, dominámos o mundo. sujos de ideias ainda mais sujas. amámo-nos em grupos. selvagens. primitivos. as noites vinham em tumultos. ardentes de tochas. as pessoas saíam à rua e nada sabiam da vida. saíam como nós amámos. em grupos. um mar de sebo. onde se afundam ideias de liberdade. era assim noite dentro. com tochas. incendiando a cidade.  
dançávamos em quartos barrocos. de roupa interior. branca. cândida. tingida de inocência pueril. em volta do fogo químico. que ardia mais em nós que no quarto. fogo de poesia. antologias completas. livros mortos. cheios de poesia morta. dançávamos. solstícios da anima. pequenas mortes vãs em cada novo segundo. punhais psicadélicos. pautas neoclássicas projectadas contra todas as paredes.
morremos sem nunca sair do quarto. o barroco. sentados em cima da fogueira. sujos de ideais. imolámos os livros. inalámos poesia por todos os poros. exalámos morte. apenas morte.


/somo-nos em pedaços grosseiros de carne crua. em sangue. sangue existencial. nojento. inexistente./

1 comentário:

  1. Fui uma das primeiras victimas deste poema! Victima no bom sentido, na medida em que tem grande impacto. Já li muito do que escreves e este é um dos melhores! Obrigada por salvares as minhas insónias,
    Luísa CS (de TTF)

    ResponderEliminar