quarta-feira, 23 de novembro de 2011


Ruas que levam a lugar algum ou ao cimo do monte. Assomo à aparente maturidade e maioridade mas não perco o sangue novo. O vento embate-me na face, refresca. Estou em pleno mas quero mais. Mil culturas, lugares, pessoas, conversas aleatórias sobre a metafísica e sobre os glúteos quase maldosamente torneados à vista para pura tentação. Intermináveis tardes, manhãs e noites. Bater pensamentos na mesa, a dialéctica eléctrica e electrizante, o saber ao alcance de um toque.  Interromperam-me a produção - sim, a literária. Tomates, laranjas, limões, uma ode à alegria, à vontade de viver. Vermelho, laranja amarelo, só com um pouco de sal. Põe açúcar nesse café, mexe bem. É fácil, estamos destinados a fingir. Tenho saudades das sestas à tarde, de atravessar as linhas dos livros de colorir e não me importar com isso, do sol a entrar pela janela e a embater na parede do corredor, da despreocupação... No país do fado somos por vezes alheio ao mesmo, ao nosso próprio. Não interessa o amanhã tão importante sem o hoje descartável. É bom sair da escuridão e escrever um pouco de vez em quando, aquece. Uma plataforma giratória de entes humanizados que partilham sem parar, que gostam sem amar e que por vezes amam também. Caleidoscópio de prazer pautado por uma inebriação flagrante. É o poder das drogas sem consumir qualquer substância, a vida eterna, a inspiração profunda e sentida. Luz a emanar das pontas dos dedos, de todas as extremidades, a levitação. Não seria perfeito se horizonte sempre perfeito assim fosse? Grandes metrópoles boémias a abarrotar de pessoas, cheias de arte, cheias de cultura, cheias de pessoas artísticas e boémias inundadas por cultura. Onde está deus (letra minúscula propositada que o corrector ortográfico insiste em sublinhar a vermelho) - brindes da era digital? Não está, dele não precisamos e para nós não existe, afinal de contas somos invencíveis. Gozamos dela e não precisamos de mais nada. Quero congelar-me aqui, neste momento e não pensar em mais nada, mas a metafísica continua, o pragmatismo prossegue. Não me preocupo, viverei para sempre.

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