domingo, 27 de novembro de 2011


Seria o amor a única razão da sua vida? Certamente e de maneira despontante, não. Se fosse esse o caso a sua existência estava agora eclipsada. Mas a verdade é que não está, ninguém desapareceu num passo de mágica, estranha e surpreendentemente o mundo não foi engolido numa grande explosão celestial. Pouco mudou, aliás. Até porque não foi o amor que desapareceu - pelo menos não em toda plenitude bilateral da questão. A chama não se apagara, estava apenas a arder a uma voz. E aquele ente que tinha como vaticínio o desaparecimento de tudo o que conhecia em concomitância com o amor, muito surpreendido ficou com o desfecho da contenda. Que reconhecimento cartográfico andará a fazer a língua, outrora sua, neste momento? Que anatomia estará a estudar? A curiosidade começava e acabava num movimento irregular, sincopado. Queria saber tudo e ao mesmo tempo nada dentro do campo da feliz inocência e da dura realidade. O ciúme, a tristeza, a indiferença e até a felicidade. Será mesmo o amor o sal da vida? Talvez seja, afinal incontáveis terras foram salgadas de maneira a que a vida não mais brotasse daquele mesmo solo. Que fatalidade ridícula... E não o são todas as fatalidades? O conhecimento do futuro assusta-nos. Falamos sem falar, profetizamos em línguas mortas que ninguém compreende, somos poetas pensadores. O tempo urge, o tempo esgota-se, o tempo é apenas o tempo e nada o é sem ele. Alquimias avassaladoras, fogos místicos rodeados por danças espirituais. Gritos viscerais despontam das profundezas e atiram aberrações retóricas à cara dos espectadores que aplaudem inocentemente entretidos pelo espectáculo que na realidade não conhecem e ao qual não estão a prestar atenção. Desconhecidos deambulam pelas ruas escuras sem rumo - eles e as ruas - com a cara tapada. É de noite e parecem caminhar com intenções homicidas. O rosto do estigma e da incompreensão. "Poetas" dizem eles, "poetas loucos"...

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