quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


A jarra de flores, o prato de queijo e os guardanapos dobrados em triângulo. A quotidiania, o ar gélido a condensar-se no ar. O chão de tábuas de madeira, a vida que range a cada passo. Somos todos parvos, somos estúpidos. O cheiro a cabelo sem champô, o cheiro natural a amor acabado de fazer. O sol entra pela janela e aquece os corpos. A alma, essa, já esta bem quente. Pequenos olhares que dizem tudo, palavras que eliminam o nada. A cumplicidade não se pode comprar, pelo menos não aquela. Uma manha que podia ser tarde. É verão. É verão mas não esta demasiado calor, os corpos nus em cima da cama ainda são unos. Ninguém fala, mas aquele silencio é mais poderoso que mil sinfonias barrocas, mas expressivo que mil quadros de Vincent - fosse isso possível. É um pequeno almoço de aspecto singelo, de aparência sublime. O café evapora-se perfumando o ar, o croissant no prato é de um dourado cabelo de anjo. O tempo esta parado, nada acontece la fora, no mundo. O cheiro a Tejo, a brisa, o cais. Ampulhetas que pela força do desejo seriam voltadas ao contrario e no grão de areia exacto deitadas para que nada se mexesse. O azul, o branco, os caracóis ao ar. A cadeira sozinha no centro do quarto com um novelo no assento. O quarto parece uma pequena cela, mas toda a luz do mundo se encontra com a cadeira naquela divisão. Os campos de trigo lá fora, os corvos. As riscas dos lençóis. O silencio total. A memoria não precisa de som, não naquela circunstância, não naquele momento. Dormitar serenamente, ir acordando e amando. Amando com os olhos, com as mãos, amando em silêncio. A luz, sim, a luz. Rosas de aspecto velho a equilibrar toda a sala, todo o mundo se poderia dizer sob a sua homeostase.  O papel e a caneta levemente pousados sobre a cómoda. Corpos nus, puros e lavados de alma branca. A única verdade do mundo, sem necessidade de mais. A placidez do momento. Momento, suspenso no tempo, na memória e completamente inocente da metafísica.

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