segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


Um bom dia puritano de uma boca sorridente com um olhar caloroso e meigo, o olhar de um gato na floresta. Olhos rasgados, verdes. "Bom dia". Uma bela mulher vestida de branco. Nas suas costas, luz. Está sentada na beira do meu leito, parece tentar seduzir-me no meu momento mais vulnerável. As manhãs são calmas, dotadas de uma plenitude plácida. Da cama vejo o mar, vejo areia e as investidas constantes do mar, vejo-a a ela e o azul do oceano, a luz aquece-me e aquele ondular com cheiro a génese embala os meus ouvidos. Abro e fecho os olhos e ela sempre ali. Cabelo castanho, olhos verdes, trajada de luz. Entro e saio do sono e ela sempre ali. Profundidade mesmerizadora, semblante terno. E a vigília brinca comigo, domina-me em rasgos, adormeço, abro os olhos. E ela mais uma vez ali, a visão divina de perfeição. O mar entra-me no quarto com notas de sal, torna aquele momento puramente metafísico ainda mais sereno. Sinto-me num marasmo, todo o meu corpo coberto de torpor. Torpor puro, torpor de êxtase. Ela sorri, seduz-me a cada piscar de olhos. Nada acontece, fico ali apenas a ir e vir de um estado de aparente consciência - que de realidade tem pouco -, tomado por uma dormência de serenidade, luz e placidez. Toda a verdade existencial num delírio onírico tão verdadeiro como a vida, como o "Bom dia", como a manhã e as gaivotas, como a areia e o mar, como a luz e a perfeição. Não somos nada, não sou nada. Agora sou aquele momento, aquela placidez e luz, serenidade e perfeição. Sou aquele momento, nada mais. Placidez. Já referi a placidez? Já referi a perfeição e a luz? Sim, é isso, a placidez. Placidez, placidez, placidez...

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