segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012





Ele era Homem
E o Sol nascia ao fundo.

Ele era Homem
E aquela bucólica calma tomava-o.


Ele era Homem,
A vida era simples.
Ele era Homem
E a vida era só.


Ele era Homem,
Trabalhava no campo,
Era Homem
E a placidez tomava-o.


A vida eterna era aquela,
A simples, a de Homem.
E toda a planície reverberava
Discreta e despercebidamente.


As mãos fortes e calejadas,
As mãos inocentes do campo.
Tudo fazia parte do mecanismo
Do eterno relógio.


Os dias eram felizes.
A luz dos vales sôbola infinita.
Os banhos tomavam-se sobejamente,

Aqueles, os de luz.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012





Nestes versos que aqui escrevo 
Ponho a vida como a conheço 
Ponho a vida, morro e mato. 
É uma languidez que me chega com o pensamento. 

Mas de olhos abertos, agora lúcido 
Não me espanto com o imprevisível 
É-me tão familiar como a morte 
Tão próximo como a vida. 

E toda esta dança 
Todo este bailado complexo 
Esta sinfonia labiríntica
Este latejar certo, obsessivo. 


O tempo bate ao tempo certo. 
As horas irremediavelmente vãs, 
O futuro indubitavelmente certo,  
A morte irrefutavelmente garantida. 


O decadentismo do pensar, 
A fatalidade do saber. 
Corro sem fugir, 
Caio a flutuar. 


E neste mar de mim, 
Nesta imensidão de nós, 
Tudo é vago e efémero, 
Tudo é concreto e infinito. 

E nestas voltas que não são nada, 
Também pouco faço.  
Tento antecipar a próxima volta 
Mas já a conheço de cor.  


 E já lhe conheço a cor. 
Viva e veemente. 
Mas ao pintar o que vejo, 
Apenas um borrão.  


O esguicho visceral de tinta. 
O liricísmo deste abstracto,  
Sem a beleza da Kandinsky, 
Com a emoção de van Gogh. 


Soubesse eu pensar Pessoa e escrever Hélder. 
De nada serviria. 
Continuaria o profeta, que de olhos abertos vaticina sem saber o futuro.